quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Zé Dinamite, um sujeito explosivo.

Lá pelos idos de 1960, vários caixeiros viajantes circulavam através das rodovias do norte do Brasil levando mercadorias e fazendo negócios nos mais ermos e afastados lugares desta região e eu era um deles. As estradas eram péssimas, não havia asfalto e ponte era coisa de luxo, no máximo haviam pinguelas, quando não dispúnhamos das pinguelas, era necessário passar com o veículo dentro do rio.



Nessas andanças, conheci o Zezinho, um sujeito tímido que comercializava dinamites. Nesta época as estradas eram poucas, assim era comum encontrar os mesmo colegas viajantes em pensões. Quando íamos para um mesmo destino, deixávamos um carro na pensão e seguíamos juntos num carro só. Eu era comunicativo, não tinha dificuldades para me relacionar com ninguém, mas Zezinho era fechado, não sabia lidar muito bem com as pessoas e por isso sempre me convidava para seguir viagem com ele, desse modo eu o ajudava a comercializar suas dinamites nas praças.

Numa primeira vez, segui viagem com Zezinho. Lá fomos nós: eu, ele, a Kombi e 700kg de dinamite. Durante a viagem, Zezinho fumava sem parar, praticamente uma chaminé. O vento entrava pela janela, batia na brasa do cigarro e levava a cinza pro fundo da Kombi. Aflito por ver brasa e dinamite tão próximos perguntei:

- O Zé, você não tem medo de andar com esse mundo de Dinamite aí atrás?
- Olha Zé - disse meu amigo - se essa carga aí explodir, você pode ficar tranquilo, a gente não vai sentir nada! Nem uma dorzinha, aliás não sobrará nem um pedacinho de nós, ninguém vai nem ficar sabendo quem éramos nós.

Pensei um pouco sobre isso, concordei e acendi um cigarro. Fumando, seguimos nós três: eu, Zezinho e a Kombi.

Zezinho era meio impaciente, ele ficava indignado com as pontes mal feitas e em forma de protesto, sempre que passava por uma, deixava uma dinamite acesa. Era mais ou menos assim, eu descia e dava as orientações p/ que Zezinho passasse com a Kombi, assim que passávamos, Zezinho falava:

- Zé, essa ponte é uma porcaria, tinha que matar o sem vergonha que fez uma porcaria dessas. Zé, o que que você achou dessa ponte?

- Ó, essa ponte tá ruim. Isso aí a qualquer momento vai cair.

Então Zezinho me pedia para assumir a direção, eu engatava a primeira, ficava com o pé na embreagem e dava meio acelerador p/ a Kombi permanecer com o motor cheio, enquanto isso Zezinho ia até a ponte, colocava uma dinamite com um pavio comprido, acendia, voltava correndo e pulava na Kombi, no embalo da adrenalina eu soltava a embreagem e a Kombi saía levantando cascalho, pelo retrovisor eu assistia a ponte SUMIR. Impressionado com a pirotecnia, eu ficava pensando: como são divertidas e poderosas as dinamites.



Certa vez chegamos na travessia de um rio, não havia ponte e por conta de uma cheia todos os viajantes estavam parados esperando a água baixar. Já haviam 3 dias e nada do rio baixar, os viajantes com seus caminhões, Kombis, Rurais... estavam todos parados, alguns viajavam com a família e a comida começou a faltar, eram dezenas de pessoas. Diante da situação, Zezinho, um pirotécnico de bom coração, não hesitou, convocou todos p/ que entrassem na parte rasa do rio e aguardassem o estouro. Zezinho subiu até a curva do rio, armou uma dinamite com algumas pedras, colocou um pavio bem comprido, acendeu e correu. Quando aquilo estourou veio aquela onda, era peixe pra todo lado, o pessoal tirou quilos e quilos de peixes da água, os que não estavam mortos, estavam “bêbados” com o estouro. Foi aquela festa, teve gente que pegou tantos peixes que salgou e armazenou pra levar. O vendedor de Uísque ficou eufórico e tirou uma caixa do destilado para celebrar aquele momento. Zezinho mais uma vez levou uma explosão de alegria onde havia angústia.




Naquela época era cada um por si e Deus por todos, haviam muitos assaltos, índios, onças... as vezes companheiros de viagem sumiam e ninguém ficava sabendo, assim sendo ninguém viajava sem um revólver 38. Um revólver era tão importante para um viajante quando um martelo para o marceneiro. Zezinho não gostava de inatividade e as vezes, quando parávamos para descansar ou fazer algum reparo na Kombi que insistia em desmontar ao longo das viagens, para quebrar o gelo, colocava uma banana de dinamite ao longe e de cá, eu sacava o 38 e dava um tiro certeiro na dinamite e a pirotecnia estava lançada, aquilo brilhava nos meus olhos e Zezinho rejuvenescia a cada explosão, parecíamos meninos em dia de São João.

Tanto Zé Dinamite como quem o conhecia só tinham uma certeza na vida: que mais cedo ou mais tarde iria morrer com suas dinamites, era uma questão de tempo. O destino não demorou e certa vez, num trevo da Rodovia Belém-Brasília, Zezinho bateu na traseira de um caminhão que transportava óleo cru, a Kombi de Zezinho estava lotada de dinamite e Zezinho morreu exatamente como me havia descrito, sem nem mesmo sentir dor, ele e a Kombi simplesmente desapareceram, foram pulverizados. A família de Zezinho nunca conseguiu um atestado de óbito porque nunca encontram um só pedaço do seu corpo ou de qualquer pertence para provar que estaria morto.



Quem dera todos nós tivéssemos a sorte de morrer como Zé Dinamite, pirotécnicamente.

por Zé Berimbau.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Culinária de Bebum




Na boa, se catalogar as gororobas que a moçada faz bebum, dá um livro de receitas.


Chegar em casa quebrado e com fome depois da balada, é latada, sempre sai uma gororoba dos infernos.

Certa vez cheguei em casa bebum de madrugada com dois amigos e fomos fazer uns sanduíches porque estávamos sem dinheiro p/ comer no Pit Dog do Zilmar.

Começou assim: juntamos todo o nosso dinheiro e saímos p/ beber, só voltamos pra casa quando a conta do bar bateu com o que tínhamos no bolso. Normalmente comeríamos um sanduíche no Pit Dog do Zilmar e cada um iria pra sua casa, mas estávamos sem grana, a verba havia ficado no bar, a fome estava nervosa e eu, sempre generoso (LoL!), convidei meus confrades p/ laricarmos sadiamente na residência de meus pais.

Era madrugada quase amanhecendo, chegando na porta de casa já dei as orientações gerais: "Estamos muito bêbados, vamos evitar barulho na cozinha, isto é uma casa de família e tenho que zelar pelo título de bom filho!". Sentamos todos ao redor da mesa e fui colocando sobre a mesma tudo que encontrava: pão de forma, maionese, catchup, mostarda, pimenta, sobra de salada, pimenta, azeite, mussarela mofada, bolachas de sal, bolachas de doce.... Cada um confeccionou seu próprio sanduba: fatia de pão, generosas camadas de maionese, mostarda, catchup e uma minguada fatia de mussarela nadando no meio de tanto condimento.



E ali fiamos. Rindo, rindo, rindo (lol, que bando de retardados!)... O pão de forma acabou, a maionese acabou, a mostarda acabou, mas p/ o azar das bolachas Cream Cracker, a fome persistia e ainda havia outro tubo de catchup. 1 pacote grande de Cream Cracker, cada par de bolacha foram devidamente recheadas com uma estúpida camada de Catchup Picante Arisco. Pronto, comemos tudo. Só sobrou o pote de manteiga.

Cada um foi pra sua casa e eu capotei na cama. No dia seguinte meu nome era AZIA (com caixa alta!). Meu estômago fervia como um bacon na chapa, passei o dia mastigando pastilhas pepsamar. Sobrevivi.



Depois de muito tempo sem surtos laricais, semana passada sofri de fome aguda pós cana outra vez.

Fui na casa de um parente que me recebeu com cerveja, queijo em cubinhos, ovos de codorna e batata frita. Estava uma belaza. Saindo da casa do parente, passei num bar aonde encontrei alguns amigos e completei meu tanque etílico. Cheguei em casa ~2 da manhã sentindo uma fome somaliana, eu precisava comer alguma coisa, qualquer coisa.
Vasculhei tudo: geladeira, armários, potes, congelador... e não encontrei nada prático! Fiquei paranóico como um drogado em abstinência. Abri a geladeira novamente e fiscalizei todos os setores e só encontrei uma panelinha com um pouco de feijão de semanas atrás.

- Merda, não quero esse feijão velho.

Fechei a porta da geladeira.

Vasculhei o freezer em busca de uma possível pizza congelada, sem sucesso!

Segundos depois, voltei, peguei a panelinha com feijão na geladeira, coloquei no fogo e adicionei 3 colheres de sopa de alho desidratado, 4 colheres de sopa de cebola desidratada, pimenta do reino e o resto de um queijo parmesão ralado (obs.: a quantidade de feijão na panela não era suficiente p/ encher um prato).

Aquela massa (é, ficou meio pastoso c/ os excessos) levantou fervura e pude sentir o sabor delicioso pelo olfato, haviam cubinhos de bacon no feijão, e foi o que fez da minha simples refeição, uma soberba gastronômica!

Retirei do fogo e decidi comer na panela mesmo p/ não sujar prato. Me servi um suco La Fruit aberto a 15 dias que bebi no bico p/ não sujar copo.

Queimei a mão umas 4 vezes na panela quente enquanto deliciava aquela gororoba e entornava o resto do La Fruit na boca p/ amenizar o gosto explosivo do alho e cebola em excesso.

Saciado, só sobrou a panela raspada e a caixinha do La Fruit vazia com o bico sujo de feijão. Soltei um arroto sabor cebolalho que me fez arrepiar. Se alguém me visse naquele momento diria: "É o diabo soltando enxofre!".

No dia seguinte, qdo acordei, um gosto insuportável na boca me fez ficar com nojo de mim mesmo, senti uma mistura de ressaca etílica + ressaca gastromoral, eu arrotava e transpirava alho.

Fui direto para o banho, levei junto a escova de dente e a pasta dental afim de fazer uma intensa assepsia bucal. Enquanto tomava banho tentando me livrar dos efeitos colaterais de uma refeição irresponsável, fiquei arrependido me prometendo comprar cadeados para as geladeiras e entregar a chave para algum sentinela da casa.

Gordo é assim, só faz gordisse!

quarta-feira, 5 de maio de 2010

O primeiro cigarro a gente nunca esquece

Lá estava eu, no alto dos meus 10 anos de idade, numa tarde de terça-feira, brincando no meio da eterna "reforma" que era a minha casa — Sim, eterna porque não me lembro de um só dia da minha infância que não houvessem materiais de construção espalhados pela casa e pertences de pedreiros nos beirais das janelas — quando de repente minha bola bate numa carteira de cigarros de um dos pedreiros que estava no beiral da janela do quarto da minha mãe e cai no chão.

O beiral da janela do quarto da minha mãe era uma espécie de armário, daqueles mais importantes, lá os pedreiros e serventes guardavam tudo: óculos, carteira, cigarro, roupas, anti-ácido, trim (cortador de unha), rapé, marmita, lápis, projeto da casa, xícara, garrafa de café, prumo, esquadro, nivelador... Enfim, era um lugar interessante p/ uma criança de 10 anos!

Fui pegar a carteira de cigarros que havia caído no chão e tive uma brilhante idéia, daquelas que aparece uma lâmpadazinha em cima da cabeça, manja? No melhor estilo "plano infalível do Cebolinha contra a Mônica". Pensei: vou furtar um bastãozinho desse aqui e esconder dentro do banheiro de fora, aí quando for tomar banho, experimento esse fumacê pra ver de qual é.

Tomar banho no banheiro de fora era "O" acontecido, algo diferente, eu tomava banho lá sempre que queria variar, sair da rotina. Na verdade o banheiro de fora era (é) pequeno, escuro e estava sempre sujo porque os pedreiros o utilizava, mas ainda assim eu me amarrava no cubículo da latrina, porque a bacia (vulgo privada) era praticamente debaixo do chuveiro, assim eu podia esmaltar a louça enquanto a água do chuveiro caía em minha cabeça engendrando um momento de puro deleite. Sem contar o porta rolos de papel higiênico dependurado atrás da porta que era surreal, além de porta papel, era porta-livros, porta-óculos ou o que coubesse lá. O gadget era verde e tinha figuras em forma de pegadas humanas, dava para ficar horas olhando para aquilo.

Bom, enfiei o cigarro debaixo de um dos rolos de papel que estava no porta-rolos e aguardei ansiosamente até o final da tarde, horário ideal para a minha estupidez traquinagem. Eram umas 18:30hs, os pedreiros já haviam ido embora, meu pai estava chegando do trabalho, nós iríamos sair, portanto minha mãe já estava berrando para me adiantar no banho. Avisei a minha mãe que iria utilizar o banheiro de fora, tirei minhas roupas no quarto e fui enrolado na toalha para o banheiro, no caminho passei na cozinha e como quem procura um biscoito no armário, surrupiei uma caixinha de fósforos sem que minha mãe pudesse notar. Pronto, meu coração estava palpitando de ansiedade: - Hoje eu experimento as delícias desse tal, tão cobiçado, cigarro.


Terça-feira era dia de ir na casa do Tio Wilson, um velho amigo de copo do meu pai, enquanto José Sarney fodia o Brasil de verde e amarelo, lá estavam os dois velhos bebendo e rindo da vida.

Nota:
Nada destrói amizades seladas com cerveja. :D

Eu adorava ir na casa do Tio Wilson, primeiro porque ele brincava de bafo e queda de braço comigo (naquela época, adultos tinham uma certa aversão a crianças), segundo porque achava a casa dele muito "chique", um mausoléu de concreto cheio de escadas onde meus lugares prediletos eram a garagem e a sala de som. Na garagem eu escutava a finada rádio 99,4 FM no Monza SL/E do meu tio ou no Kadett Marron da minha tia. Na sala de som escutava o CD do SNAP, minha música preferida era Rhythm Is A Dancer (coisa gay :/ ), num sonzão Aiwa com carrossel para 5 CDs. CDs, sala de som, Kadett, Monza..., tudo era um LUXO para aquela época. :-D E terceiro que meus pais esqueciam da minha existência me deixando livre para fazer a zona que quisesse.



Fechei a tampa do vaso sanitário, sentei, coloquei o Hollywood vermelho na boca, acendi o danado e puxei uma fumaça pra boca, o gosto foi bem ruim, minha boca encheu de saliva e eu cuspi em abundância no ralo do banheiro, mas sabia que não estava fumando corretamente, passei muitos anos vendo meus padrinhos e meu pai fumando, sabia que a fumaça tinha que entrar no pulmão e lá fui eu, dei outra chupada no Hollywood, enchi a boca de fumaça e respirei pela boca de uma vez e... PUTA QUE PARIU! Parece que havia explodido uma bomba dentro dos meus pulmões, o treco doeu e eu tossi muito, fiquei uns bons minutos tossindo como louco, eu estava vermelho tentando segurar a tosse para a minha mãe não ouvir, quase explodo!


Passado o sufoco da tosse, abri a torneira da pia e com a água corrente apaguei só a brasa incandescente do cigarro e joguei no cesto de lixo do banheiro fazendo cara de nojo e indignado como alguém poderia "fumar" aquele troço horroroso.

Terminei meu banho e fui para o quarto vestir minha roupa de sair (roupa de sair porque ir no Tio Wilson era um momento nobre e pedia minhas melhores roupas =oD), nisso meu pai já havia tomado o banho dele e estava fazendo sua tradicional fiscalização, explico: sempre que iríamos sair meu pai andava pela casa verificando todas as portas, janelas e portões. Quando ele chegou no banheiro de fora, ouvi a conversa entre ele e minha mãe:

- Nega, teve alguém agora a tarde aqui em casa que fuma e usou o banheiro?
- Não.

Nessa hora eu comecei a tremer, o pânico me dominou, mas ainda consegui pensar em algo que poderia me livrar de qualquer culpa, corri no banheiro de dentro, peguei uma bela dedada de creme dental Close-Up (azul translúcido) enfiei na boca e saí tentando engolir aquilo. De volta ao quarto, visto minha roupa como uma velha com Parkinson, tremia tremendamente (trodadalho do carilho! :-D) enquanto a conversa continuava:

- Olha, esse cigarro aqui está até meio quente, tá parecendo que foi agora, o cheiro no banheiro está terrível. Guilaaaa! (meu pai me chamando em tom normal)

- NÃO FUI EEEEEEEEEEEEEEUU! (Eu gritando de longe em tom de pânico)

Pronto, acharam o fumante!
Na verdade meu pai iria me perguntar se eu sabia quem era o dono do cigarro, poderia ter dito que era de um dos pedreiros e talvez colasse, mas meu pânico não deixou, me entreguei.

- Guila, vem aqui.
- [silêncio total]
- Foi você quem fumou esse cigarro?
- Sim. (não sei mentir, é uma merda isso)
- [TABÉÉÉÉÉFE] (bem na cara)
- Nunca mais coloque isso na boca.

E aí fodeu minha noite de terça na casa do Tio Wilson :( Ficou sem clima. Fiquei sentado na sala quietinho só assistindo TV e aguentei todo mundo que passava e perguntava o porquê d' eu estar tão "chué" e minha mãe respondia: "É que hoje ele fez uma arte e o pai dele brigou com ele.".



Tomei minha primeira e única bofetada do meu pai.

=o)

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Monstrinho de estimação

Doentio é o meu hábito de passar horas cultivando ódio em busca dos meus defeitos, até os mais insignificantes. Está p/ nascer um sujeito que se sente mais culpado do que eu, seja lá qual foi a situação.

Se estou em casa e "der merda", sou o primeiro a sentir culpa. No trabalho então nem se fala, lá estou eu chupando todas as culpas do mundo como a máquina de sugar fantasmas de Os Caça-Fantasmas só por achar que algo pode dar errado. Sempre sofrendo por antecedência.

Se faço um bico de manutenção no computador de alguém, fico num puta mal-estar na hora de dar o preço, logo prostituo o mercado cobrando merreca (quando cobro). Houve casos em que o "cliente" se sentiu desconfortável com a minha auto-desvalorização profissional (será?) e acabou pagando a mais. Isso é péssimo, é tomar um cuspe na epiderme facial e se sentir culpado por estar na mesma trajetória do projétil de catarro.

Seguindo neste ritmo nunca alcançarei minhas sonhadas viagens pelo mundo. Nem uma delas.

O fato é que por nunca reclamar de nada e de ninguém além de mim mesmo, criei um pequeno monstro de estimação chamado Palavras_não_ditas. É como se fosse um cachorrinho, um fiel companheiro que anda lado a lado comigo, um cão guia me protegendo das portas do mundo. Juntos nós sentimos na língua todo o amargo da angústia e da frustração. Meu estimado monstrinho, o palavras_não_ditas, nunca avança em ninguém, é sempre muito dócil, contudo, ele esta sempre pronto p/ me aplicar dolorosas mordidas. É uma espécie de filho mimado cujo pai não tem autoridade suficiente p/ impor controle no dia do supermercado.

Ainda esta semana o Palavras_não_ditas andou engolindo sem nem mesmo mastigar, algumas carregadas frases de ódio que deveriam ter saído da minha boca. Eu disse a ele: melhor começar a mastigar isso direito, do contrário, todo esse ódio não fragmentado lhe causará hemorróida.

Palavras_não_ditas não é tão novo, mas é forte e saudável, minha promessa de companhia pelas próximas décadas, sempre me protegendo do bem estar.

Só espero que Palavras_não_ditas, um dia escape da coleira e eu fique alheio ao mundo pronto p/ provocar um dia de fúria descontando todo o ódio dacadário empilhado em quem sequer contribuiu p/ uma fração da minha amargura. :-D

quarta-feira, 24 de março de 2010

Caetano Veloso: um sujeito alfabetizado, deselegante e preconceituoso

Por Antonio Barreto, de Santa Bárbara, Bahia


Eu já estava estressado
Temendo até por vingança.
Meus alunos na escola
Leitores da ‘cordelança’
E a galera em geral
Sempre a me fazer cobrança.

Todo mundo me acusando
De cordelista medroso
Omisso, conservador
Educador preguiçoso
Por não me pronunciar
Sobre Caetano Veloso.

Logo eu, trabalhador,
Um pouco alfabetizado
Baiano de Santa Bárbara
Sertanejo antenado
Acima de tudo um forte…
E por que ficar calado?

Resolvi tomar coragem
E entrei logo em ação.
Fui dialogar com o povo
E colher a opinião
Se Caetano está correto
Ou merece punição.

Lápis e papel na mão
Comecei a anotar
Tudo em versos de cordel
Da cultura popular
A respeito de Caetano
Conforme vou relatar.

- Artista santo-amarense
Amante da burguesia
Esse baiano arrogante
Cheio de filobostia
Discrimina o presidente
Esbanjando ironia.

- Caro artista prepotente
Tenha mais discernimento.
Seja um Chico Buarque
Seja Milton Nascimento
Seja a luz do Raul Seixas
Deixe de ser rabugento.

- O Caetano deveria
Ser modesto e mais gentil
Porém o seu narcisismo
Que não é nada sutil
Faz dele um homem frustrado
Por ser bem menor que Gil.

- Seu comportamento vil
É algo de outra vida
Ele insiste em muitos erros
Não cura sua ferida
Por isso sua falação
É de alma involuída.

- Caetano é um arrogante
Partidário da exclusão
O que ele fez com Lula
Faz com qualquer cidadão
Sobretudo gente humilde
Que não tem diplomação.

- Por que este cidadão
(o Caetano escleroso)
Não criticou Figueiredo
Presidente desastroso?
Além de aproveitador
O Caetano é medroso.

- Esse Cae que ora vejo
Não representa a Bahia.
Ser o chefe da Nação
Esse invejoso queria
Mas a sua paranóia
Pouco a pouco lhe atrofia.

- Já pensou se o Caetano
Fosse então educador?!
“Mataria” os seus alunos
Pela falta de pudor
Pela discriminação
Pelo brio de ditador.

- Ele não leu Marcos Bagno
Pois é leitor displicente.
Seu preconceito linguístico
Contra o nosso presidente
Discrimina Santo Amaro
Terra de Assis Valente.

- Ele ofende até os mortos:
Paulo Freire, Gonzagão
Patativa do Assaré
O Catulo da Paixão
Ivone Lara, Cartola
Pixinguinha, Jamelão…

- Caetano é um imbecil
Da ditadura um amante.
Um artista egocêntrico
Decadente ambulante
Se julga intelectual
Mas é mesmo arrogante.

- A Bahia está de luto
Diante da piração
Desse artista rabugento
Que adora a exclusão,
Vaca profana, ególatra
Que quer chamar a atenção.

- Vai de reto, Caetanaz
Pega o Menino do Rio
Garoto alfabetizado
Que te provoca arrepio.
Esse sim, não é grosseiro
Nem cafona pro teu cio.

- Um burguês reacionário
Que odeia a pobreza.
Ele não gosta de negro
E só vive na moleza.
Sempre foi um lambe-botas
Do Toninho Malvadeza.

- Vou atender meu cachorro
Pois é algo salutar
Muito mais que prazeroso
Que parar pra escutar
O Caetano elitista
Que começa a definhar.

- Certamente o Caetano
Esqueceu do Gardenal.
Bem na hora da entrevista
Lá se foi o bom astral
Desandou no Estadão
Dando um show de besteiral!

- Caetano ‘Cardoso’ segue
Sempre a favor do “vento”
Por entre fotos e nomes
Sem lenço nem argumento
Vivendo só do passado,
Cada vez mais ciumento.

- Eu respeito a sua arte
Mas preciso declarar
Que quando não tá na mídia
Cae começa a atacar
Sobre tudo as pessoas
De origem popular.

- O Caetano gosta mesmo
É de gente diplomada:
Serra, Aécio, Jereissati,
Toda tribo elitizada…
Bajulou FHC
Que fez muita trapalhada.

- O Caetano discrimina
Pois está enciumado.
Na verdade, o nosso Lula
É um homem educado.
Um nordestino sensível
Muito mais que antenado.

- Dona Canô, com 100 anos
Não perdeu a lucidez.
Mas seu filho Caetano
Ficou pirado de vez
Transformando-se num “cara”
De profunda insensatez.

- Ofendeu Marina Silva
Através do Silogismo
Mistura de Lula e Obama
Logo quer dizer racismo:
Mulher cafona, grosseira
Analfabeta – que abismo!

Adoro Mabel Veloso,
Betânia, dona Canô…
Para toda essa família
Meu carinho, meu alô.
Mas o mestre Caetanaz
Já está borocoxô!

É proibido proibir
O cordelista versar
Pois conforme disse Cae
“Gente é para brilhar”.
Então permita ao poeta
Liberdade de pensar.

Brasileiros, brasileiras
A Bahia está de luto.
Racistas em nossa terra
Radicalmente eu refuto.
Estamos envergonhados,
Todos fomos humilhados
Oh Caetano ‘involuto’.

FIM

Fonte: http://cachacaaraci.wordpress.com