segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Versos Íntimos



Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

Augusto dos Anos

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Guarda-roupa novo

Querido diário,

Eu gosto de você, mas é que a preguiça... hããmm, a preguiça me ama! Não tenho energia pra lutar contra as forças deste amor maligno! Ela ocupa quase todo o meu tempo e me sobra muito pouco tempo pra gastar com você, querido diário! Qualquer dia te chamo de Mensário, assim lhe garanto pelo menos 12 posts até o réveillon de 2009.

Agora que as desculpas foram devidamente pedidas, prossigo:

Navegando pela internet, achei um guarda-roupa bacana em MDF e decidi subitamente que iria comprá-lo, para minha surpresa 3 dias depois o desejado objeto já estava lá em casa, pensei: ótimo! A noite tiro o guarda-roupa velho (40 anos pra ser mais preciso) e monto o novo. Ledo engano!

Primeira noite:
Começo a esvaziar o guarda-roupa antigo. "Meu, que loucura loucura loucura loucura!" é o que diria Luciano Huck se estivesse ali. Puta merda, como aquele movelzinho antigo e quadrado cabia tanta coisa?! Sem contar que haviam coisas desconhecidas lá dentro. Achei uma belíssima coleção de sacolas velhas de papelão, ótimas para acumular poeira, uma velha espingarda de chumbinho, um prendedor de cabelo indígena xiquérrimo que minha irmã usava na década de 80 junto com camisetas do menudo, bolsas das Cias aéreas Transbrasil e Vasp, o punho de uma antiga espada Jedy que brilhava no escuro, coleção de revistinhas Shell (isso devia ser de 1984), todas as minhas mochilas desde a época do ginásio, aliás, vou começar um novo parágrafo pra falar dos bagulhos escolares.

Quando vi aquele monte de cadernos, agendas, provas e rascunhos pensei: "Que merda é essa? Pra que que eu guardo essas tranqueiras?!" Quando comecei a ler aquele material, entendi porque guardo aquilo. São os livros de história que falarão sobre a criança e o adolescente maluco que eu era. Tinha uma prova vazia, não respondi nem uma questão porque não sabia absolutamente nada e nas costas da prova deixei uma belíssima mensagem para o professor, acho que quando fiz isso, tentei me salvar pela compaixão do professor que, amargamente, me deu zero! =oD

E os recadinhos, desenhos, poesias bizarras... Cara, meus antigos cadernos são coletâneas de artes abstratas e poesias mórbidas. Pessoas normais poderiam achar isso fruto de uma mente perturbada, mas eu não, pra mim isso é arte! =oD Retratando o ser humano e seus mais selvagens sentimentos! =oD

Não dá pra falar de tudo, é muita coisa, antigos amores, telefones dos velhos amigos, época em que scrap book era uma coisa real feito com caneta, tinta e papel... Nesses momentos de nostalgia sempre me pergunto: Por que a gente não vive bem agora pra não ter que ficar com saudade no futuro de quando relembrarmos o agora que será passado? (Profundo! =oD)

Voltando a limpeza no guarda-roupa, já eram 1 da manhã e eu ainda não havia tirado a metade das coisas, mas o meu quarto já estava entupido, impossibiltando assim que eu dormisse no quarto. Tive que pedir azilo no quarto da minha irmã e vejam que sorte, consegui vaga na cama!

Segunda noite:
Meu pais e minha irmã foram pra uma festa de casamento e isso me daria muitas horas de privacidade para montar meu novo guarda-roupa.
Chamei meu vizinho: "Bora tirar esse guarda-roupa daqui, pega de um lado e eu do outro." Meu vizinho, um rapaz sábio em assunto de móveis, disse serenamente que seria preciso desmontar o velho guarda-roupa para tirá-lo do quarto, e nesse ponto comecei a perceber que o desconhecido nem sempre é simples como parece. =oD

Lá vamos nós, de aparafusadeira em punho comecei o show de destruição - já viu como os amadores se empolgam com uma ferramenta nova? O bom é que essa motivação dura até o serviço começar a ficar pesado, aí você passa a odiar sua ferramenta. - Comecei a desmontagem pelos pés do velhor roupeiro, quando tiro o primeiro parafuso a merda começa a feder, sem um pé, não sei o que seria do antigo móvel e de mim se meu vizinho não estivesse ali para segurá-lo. Não querendo intrometer mas vendo que a situação não estava sob controle, meu vizinho sugere q eu comece desmontando as portas, os cabideiros, as laterais para aí então, desmontar os pés. Ai ai... Esse meu vizinho se acha um sabichão.

Seguindo as dicas do guru em móveis, meu vizinho, a velharia estava completamente no chão. Que beleza! Agora posso partir para para a montagem do meu moderníssimo roupeiro! Rasgo a embalagem como uma criança em baixo da árvore de presentes em dia de natal, estou bêbado de empolgação. Enquanto abro as caixas, minha empolgação vai virando uma tensa preocupação, o negócio tinha um quatrilhão de peças, parafusos, trilhos, roldanas, cantoneiras... Socorro! Por onde Começo?

Para minha sorte, meu vizinho ainda estava presente e me orientou na parte mais difícil: encontrar o fio da meada. Montamos a estrutura toda e três horas depois o guarda-roupa estava de pé. Me senti como um velejador que constrói seu veleiro com as próprias mãos e o coloca na água pela primeira vez erguendo a vela. Deu até vontade de quebrar uma champagne no "casco" do meu guarda-roupa.

Com o veleiro em água, meu vizinho me deixou, dali em diante eu seguiria sozinho, vulnerável a um mar escuro e hostil. Como não sabia o que fazer e não entendia nada no manual, fui montar as gavetas, meti parafuso e pregos, ficaram ótimas, estava orgulhoso do meu trabalho, entretanto, mais tarde descobri que esquecera de passar a cola. Maldito manual! Como um objeto com milhares de peças vem com uma manual que só tem 3 figuras? Absurdo! Foda-se, ficará assim mesmo, sem cola. O guarda-roupa é meu, foi pago com o meu dinheiro e eu monto a gaveta da maneira como melhor me convém.

Agora é uma parte importante: pregar o fundo. Um fundo mal pregado pode deixar seu guarda-roupa torto. Como sei disso? Meu vizinho, um guru na arte de montar móveis como já disse antes, falou cansativamente sobre esta parte e antes de ir embora fez várias observações para que eu prestasse muita atenção nisso, do contrário o roupeiro ficaria torto. Sábio rapaz! Tente seguir seus conselhos, mas na prática as coisas funcionam de maneira diferente, as vezes você precisa ser objetivo, assim meti prego no fundo e pensei: quando estiver tudo montado, o peso vai colocar tudo no lugar. Esse fundo me deu trabalho, eram 7 placas de 2,3metros de largura e uns 40 centímetros de altura, eu pregava de um lado, caía do outro, mas o pior era na hora de encaixar a canaleta de emenda, o filho da puta que projetou aquilo não tinha mãe, sujeitinho despresível. Enfim, no manual dizia pra por uns 100 pregos, achei exagero e eu já estava bastante cansado, coloquei uns 6 pregos pra cada placa e isso não mudou absolutamente nada na minha qualidade de vida. Obs.: Vendo meio saco de pregos.

Já eram 1 da manhã, o fundo estava pregado, as prateleiras aparafusadas, gavetas montadas, faltavam os trilhos das gavetas, a porta e uns 3 ou 4 pauzinhos que estavam sobrando que posteriormente descobri que faziam parte do acabamento. Peguei o manual, dei uma olhada pra ver se entendia como funcionava aquela gaveta, virei o papel em vários ângulos mas nada, eu simplesmente não entendia aquilo e todos aquelas milhares de peças, aquela quantidade toda de parafusos e roldanas me deixavam inseguro, faltava tão pouco para terminar a montagem, mas tinham tantos parafusos sobrando que fiquei com medo de ter deixado algo por aparafusar. Puxei uma cadeira, sentei, e neste momento vi o quanto sofre o corpo de um programador quando assume o cargo de um chapa.

Algo me dizia: largue isso, vá dormir, amanhã você paga um marceneiro pra vir terminar isso. Mas a casa estava impossível de entrar, esparramei ferramentas, roupas, malas, revistas... por toda parte. Quando meus pais chegassem ficariam chocados, eu precisava pelo menos arrumar a bagunça. Fiquei lembrando as palavras do meu pai um dia antes: "meu filho, pague alguém pra montar esse guarda-roupa, isso não é fácil, dá um trabalho do cão e você ainda pode fazer coisa errada." Nessa hora o medo de ser zoado no dia seguinte me dominou, agora era pessoal, meu pai veria quem é que manda, eu ou o guarda-roupa! Peguei o manual, olhei-o minunciosamente e consegui montar a guia superior das portas corrediças, foi um sucesso! Com a guia posta em seu devido lugar, consegui entender facilmente como seria a montagem das partes de acabamento e executei a montagem das mesmas. Ainda embalado pelo orgulho, montei as partes que seriam a porta, mas as roldanas e o tal de freio ainda me deixavam inseguro, reservei-os.

Quando olhei no relógio já eram 2:30 da manhã, meu olho estava ardendo de sono, dedos machucados e a aparafuzadeira sem bateria. Meus pais estavam para chegar, eu precisava dar um jeito na bagunça. Abandonei a montagem e parti para a limpeza da casa transferindo todo lixo, sujeira, ferramentas e entulhos p/ dentro do meu quarto. Já eram 3:00 da manhã, meu trabalho já não rendia, minha cabeça não funcionava, era hora de baixar as velas do veleiro e descansar. Tomei um banho, fiz um sanduíche de pão com mortadela ouro e uma lata de coca-cola, a refeição dos deuses. Terminando minha refeição, meus pais e minha irmã chegaram, estavam meio embriagados e me indagavam ansiosos por notícias positivas do guarda-roupa, dei poucas e curtas respostas. Pedi asilo no quarto da minha irmã pra dormir mais uma noite, mas dessa vez não consegui ficar na cama, fui p/ um sofazinho curto. Deitado no sofá, tentando pegar no sono, os trilhos das gavetas não saíam da minha cabeça, eu estava acabado e o sono não chegava, a merda dos trilhos da gaveta não me dava trégua, fiquei pensando: como fazem os marceneiros na hora de dormir? No dia seguinte, senti dores em músculos que eu não sabia que existiam em meu corpo.


Terceiro dia:
Aproveitei meu horário de almoço para mais uma tentativa com a montagem dos trilhos das gavetas. Agora, mais tranquilo e com a ajuda caprichosa da minha irmã, montei sem dificuldades os trilhos das gavetas, mas tive que parar porque a aparafusadeira acabou a bateria mais uma vez. Pensei: ...é aparafusadeira, vc é mais fraca do que eu! =oD

Terceira noite:
Fui pra casa decidido a concluir a montagem do meu guarda-roupa. A minha meta seria dormir na minha cama aquela noite. Voltando do trabalho pra casa fui pensando: O guarda-roupa é meu, se der errado, o problema é meu e somente meu, vou chegar aparafusando aquela roldana na porta sem dó. Cheguei em casa, a bateria da aparafusadeira estava tinindo! Coloquei meu uniforme de trabalho e parti pra guerra. Terminei o trilho das gavetas, com a ajuda da minha irmã mandei bala, ou melhor, parafuso nas roldanas da porta e tudo parecia ir muito bem, até que a ranzinza da minha irmã que se apega muito a detalhes começou a encontrar muitos defeitos no meu trabalho: "Isso está torto", "Isso está errado", "Falta um prego aqui". Isso atrasou muito meu trabalho tive que desmontar a porta novamente, controlando meu bom humor em meio a tantos palpintes, principalmente aqueles que eram pertinentes, isso estava ferindo meu ego de macho.

Portas no lugar, gavetas em ordem, guarda-roupa no lugar... Ah! Ó meu trabalho, como és belo!

Minha irmã se canditadou a fazer a limpeza, eu tentei evitar, disse que não precisava, mas ela insistiu, eu sabia que ela encontraria algum probleminha, ela sempre se apega aos detalhes e mesmo que eu diga que é bobagem, ela não aceita, me manda fazer tudo de novo. Armada de um perfex começa a limpeza enquanto ajunto as ferramentas e aquele monte de pecinhas sobrando. A tensão tomava conta de mim, comecei a enrolar com as ferramentas porque sabia que com a minha irmã na inspenção, eu teria que voltar a utilizar as ferramentas... Dito e feito:

-Guila, tem uma ponta de prego aqui no fundo... tem outro. Guila, tem outro aqui ó.
E eu calado.
-Guilaaaaa, você tem que arrumar esse prego aqui ó.
-Não precisa, isso é bobagem.
-Precisa sim, tem que arrumar.

Lá vai eu arrastar guarda-roupa, entrar atrás, tirar prego, bater prego... nisso, minha irmã achou mais um prego com a ponta pra fora e eu grilei:

-Pôrra, para de procurar essas merdas porque senão não termino isso hj.

Depois dos pregos, tudo parece dar certo, mas por pouco tempo:
- Guila, vc não tampou os buraquinhos.
- Ninguém vai olhar isso, deixa assim.
- Não Guila, deixa de preguiça, arruma isso aí.

Cara, eu odeio tampinhas, comprarei um saco de tampinhas só p/ jogá-las no fogo uma a uma. Malditas!

Guarda-roupa no lugar, tampinhas no lugar... Fui limpar o maleiro do guarda-roupa, lá minha irmã não alcaça, sorte minha, porque lá ficou umas 4 pontas de prego, se minha irmã não as vê, não preciso tirá-las.

- Guila, essa porta está torta...
- Guilaaa, tem alguma coisa errada com a porta, a gaveta não abre.
- Guila, o guarda-roupa está torto.

- Lamento, vai ficar assim.

Tive que dormir mais uma vez no quarto da minha irma. Minha coluna está deformada.

Hoje:
Pretendo colocar tudo dentro do guarda-roupa novo. Saberemos se deu certo num próximo post.

Obs.: Dedico este post à minha maravilhosa aparafusadeira, pelas longas noites de rodopio.